terça-feira, 11 de outubro de 2011

Reverberando

Tenho tentado estar em todos os lugares ao mesmo tempo...


sacar e receber,

ser narrador e leitor –

onisciente, onipresente...

tenho realmente tentado

executar papel de relevância

visível ou sonora.

Canto um canto o quanto posso

conto um conto.



Espero não copiar ninguém...

e meu cérebro me sabota.



Tudo o que me identifica faz parte de mim,

é parte rara.

Não posso deixar de me ver em tudo que me cerca

e lhes quero reverberar: meras saliências de um mundo comum.

Meias verdades descobertas no tato,

Homens limitados, de contornos usuais,

Estes sim me acalentam,

Por sua triste ternura.

domingo, 10 de julho de 2011

Infverno

O frio me encurva sem me tocar. Tento guardar por dentro o último calor do verão de modo que não lhe afete o rigoroso inverno – como há muito não visto – que vem castigando as bandas do sul.


Ora, minha vida vive nos trópicos! E apenas guardo um tanto de quente para ir levando o inverno. De fato, não me é fácil arcar com o inverno do sul, embora tenha nascido aqui e nunca tenha morado fora.

Eu digo não ao inverno – por dentro...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Back to that same old place

Toda a cidade agora conspirava por um desfecho. 
O céu carregado refletia luzes laranja de segunda-feira 
e o vento úmido tomava conta.

O pulso batia lento e regular, sem sobressaltos. 
A respiração era constante, sem alterações. 
Os dentes na barriga já não mordiam 
nem provocavam cócegas. 
Tudo se tornara insípido.

A inércia nesse corpo,
 nesse solo infértil 
exprimia uma astuta e vantajosa renúncia, 
e trazia de volta o sono dos Deuses.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ausência

A sua presença lhe faltava e
tornava o sono impossível.

Fazia arder o colchão
onde ela deitava.

Lhe dava nós no estômago e
transformava o coração
em um cavalo selvagem
galopando solto no peito.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Assuntos de travesseiro...

Alguns dizem que o mais importante é ter um objeto de pensamento agradável para ajudar a levantar de manhã, e embalar os sonhos à noite. Outros ainda dizem que as paixões são altamente indicadas, pois tem a capacidade de tomar conta da consciência e neutralizar quaisquer outros assuntos em pauta.
"Mesmo que platônicas?" Ela se perguntava, com a cabeça fervilhando em dúvidas. Ia então definindo... Paixões são curiosidades súbitas que vem em rompantes, e podem ser carnais ou não. Pois, havia de ser agora, passados 14 de seus 14, que ela se via vivendo um platonismo exacerbado, disfarçado de maturidade tranqüila.
Mas ela já não se sentia como então. Estava madura e tranqüila, embora se conservasse intempestiva e volúvel. Tinha mais responsabilidades para consigo e os outros, e ponderava mais.
“Então por que diachos Platão foi me achar?” Depois de recorrer aos dicionários on-line, os mais confiáveis, encontrou: "Platônico – Ideal, desligado de interesses ou gozos materiais, casto: amor platônico." Então, era isso mesmo... se encaixava nas definições. Coisa de velhos e de crianças, e só assim e então, viável.
Ela estava no meio do caminho, e não queria nada de diferente. Tinha sim, coisas em que pensar que a faziam se erguer da cama com suficiente vitalidade, e tinha também assuntos de travesseiro bem interessantes para pegar no sono com sorriso no rosto. Mas, contrariando os especialistas, nessas coisas, Platão era apenas um coadjuvante. Ela tinha ainda a sensação de que se fosse viável e não platônico, não teria lugar, nem como mero figurante.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Canção em Pedaços


Trazia no peito restos de toda a parte.
Os restos se juntavam e compunham a canção.
A canção durava o tempo do andor.
Os versos, de restos iam se tecendo e se moldando.
De certa maneira criavam eles mesmos o caminho,
Ditavam o próximo destino.
Ela se deixava levar...
Mas não cantava.

Trazia um tampão na goela, que por vezes voava com lufadas de um vento que vinha lá de dentro.
O cenário tórrido de um verão tardio e úmido era opressor, e cada um reage do seu jeito à opressão.
Tinha dias em que o tal vento só queria sair, se perder na atmosfera.
Numa rua lotada, num bar cheio de gente, quando andava na multidão.
Queria urrar, disfarçar-se de louca,
Rasgar o pano da normalidade, por uns segundos de embriaguez.

Depois, a chuva veio, pra lavar a madrugada.
Tirar as marcas da calçada
Onde a canção estava gravada.
A canção já não era nada,
A menos que fosse entoada.
Mas ela não cantava.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Mary & Max

O filme mais lindo que eu assisti nos últimos tempos... Fala de amizade, da vida, da depressão e das muitas síndromes que assolam o mundo moderno... Desejo a todos uma amizade estranha e verdadeira como a de Mary e Max!